terça-feira, 20 de julho de 2010

Capítulo 10

No quarto pink de Paulelte Blue, Sheila estava sentada sobre uma maca coberta por um lençol amarelo. Sabe aquele amarelo de encardido? Exatamente este. Mas ela nem se importava. Já estava ali há praticamente uma hora e não parava de falar.

- Então Paulette, no caminho fiquei pensando no codinome que você falou. Não sei se quero mais essa coisa de concurso. Estou pensando em eu mesma criar um codinome pra mim. Mas não sei se sou a fim de colocar um nome de verdura, de fruta, de legume. Pra mim, isso já é fora de moda, sabe? Tô pensando em explorar o artístico que existe dentro de mim. Pensei em Sheila Sinatra, o que você acha? Aí, de repente, as pessoas podem pensar que eu sou parenta daquele cantor de rock famoso, como é mesmo o nome dele? Elvis, do Elvis Sinatra, lembra dele? Pensei também em uma coisa mais moderna, como Britney Spilberg, não é bom? Porque todo mundo sabe quem é Britney, imagina quem não vai saber que ela é a herdeira daquela rede de hotéis, e ainda com o sobrenome Spilperg, vão pensar que eu sou parenta daquele jogador de futebol da Inglaterra, o David. Pensei também numa coisa assim, de brilho, chique, poderosa: Crystal Atlantic. Ou então um nome mais brasileiro mesmo, Angelita Maiô. O que você acha?

- Matraca.

- O que?

- Mulher Matraca.

- Parece ser bom. O que quer dizer matraca?

- Uma mulher gostosa.

- Isso eu sou mesmo. Gostei Paulette. Vou sugerir esse nome pro meu diretor. Quem sabe ele não gosta?

Paulette até que teve uma certa pena da burrice da dançarina. Mas a raiva foi mais forte.

- Você não precisa de silicone. Teu peito tá ótimo. Pode ir embora.

- Mas eu quero tanto...

- Eu já disse que você não precisa de silicone. Pelo menos por enquanto. O que você precisa agora é de um cérebro.

- E onde eu compro?

- Na farmácia.

- É tarja preta? Precisa de receita?

- Precisa de um pouco menos de estupidez. Volte quando você a tiver esquecido por aí.

- Esquecido quem?

- A estupidez.

- Tá bom.

Sheila saiu um tanto deprimida do apartamento de Paulette Blue. Um tanto deprimida e bastante confusa. Afinal, onde ela arrumaria uma receita para a compra de um cérebro novo? E a estupidez que ela deveria esquecer? Seria ela uma pessoa? Se fosse, quem era? Todas estas perguntas a deixaram extremamente cansada e o que ela mais queria naquele momento era voltar ao La Genoveva e encontrar seu namorado.



- Temos um caso, disse o Detetive Clayton para Steves assim que chegou na delegacia.

- Um puta caso!

- Sem dúvida que é!

- Um caso do caralho. E que caralho, continuou Steves.

- Eu diria pra você que é um caralho enorme.

- Bota enorme nisso!

- Então você já sabe?

- E como sei!

- Como você soube?

- De que?

- Do caso.

- Que caso?

- O caso do caralho. Das dançarinas assassinadas. Do serial killer que está matando as dançarinas de auditório da TV Mundo.

Foi então que Steves caiu em si e se deu conta que o caso do caralho que se referia Clayton não era o caralho do Diego e que ele quase se entregara.

- E então, Steves? Como você soube?

- Não sei.

- Não sabe como soube ou não sabe o que eu sei?

- Caralho, Clayton, do que você está falando?

Clayton tirou do bolso a foto que havia recebido e jogou-a na mesa de Clayton.

- Há um serial killer matando dançarinas, Steves. E a próxima a morrer, está nesta foto!

Steves olhou para a foto e por alguns segundos, ele lembrou-se de quando era mais jovem e seu sonho de vida era ser uma dançarina de auditório. Recordou-se de como imitava os passos das meninas enquanto assistia aos programas na TV e da surra de cinta que seu pai lhe dera quando viu a cena do filho rebolando em frente à TV usando um collant que comprou para ensaiar melhor.

- O que foi, Steves?

- Nada. Nada. Me fale mais sobre o caso!

E foi então que Clayton revelou a Steves tudo o que sabia. A conversa foi interrompida pelo toque insistente do telefone na mesa de Clayton.

- Alô!

- Clayton, é o Pimenta. Liguei pra putinha.

- Que putinha?

- A sua putinha, porra. Marquei um almoço com ela amanhã, no Piolim.

- No Piolim,, não tinha um lugar melhor?

- Quer melhor lugar pra uma puta do que uma cantina na Augusta? Relaxa! Até amanhã.

Steves desligou o telefone em estado de graça. Mal podia esperar pelo dia seguinte. E mal sabia ele que o dia seguinte seria repleto de acontecimentos surpreendentes.

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