quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

CAPÍTULO VIII


Às 08h55 da manhã seguinte, o Detetive Steves estava na porta da loja Fantasy e Fantasias, recém-inaugurada na 25 de março.

Estava ansioso. Muito ansioso. Extremamente ansioso. Na noite anterior, telefonara novamente para Diego Braga, desta vez identificando-se como o Padre Tavares.

- De qual igreja? – perguntou Diego.

- Da igreja de Santa Mafalda.

- Nunca ouvi falar desta santa.

- É uma pena!

- Onde fica a igreja?

- Em Tapiratiba. Uma cidadezinha do interior. É a única igreja desta santa pouco conhecida.
- Quem lhe indicou?

- O Padre Anselmo.

- Não conheço.

- É porque ele ainda não usou os seus serviços. Mas me disse que usará em breve. Você foi recomendado a ele pelo Padre Daniel.

- Esse eu conheço.

- Pronto. A que horas amanhã?

- O que você quer?

- Tudo.

- Ao meio-dia.

- Estarei aí.

Steves estava tão recolhido em si mesmo lembrando-se da voz sensual do garoto que nem percebeu que a loja já estava aberta. Entrou rapidamente, escolheu a melhor fantasia de padre que encontrou, experimentou e saiu, seguindo rapidamente para a delegacia.
***

Desde cedo, a sala de Rafael Neto estava um caos. Todas as dançarinas estavam lá, algumas em prantos, outras em estado catatônico e as demais gritando como loucas.

Em meio a tanta confusão, Duda Maia e Tavares tentavam convencer o diretor artístico que as imagens do corpo da mulher acelga poderiam ser usadas no reality show Mal Súbito. Além disso, ambos estavam felicíssimos, pois, diante do fatídico acontecimento, entenderam que o melhor critério de eliminação deste programa, seria a morte.

- Morreu, eliminou! É isso, Rafael, morreu, eliminou! O que você acha?

- Eu não acho nada. Eu não consigo pensar!

- Pois trate de pensar, ordenou a Mulher Aipim. Alguma coisa muito estranha esta acontecendo. Não é possível que seja só uma coincidência.

- E é bom achar um jazigo pra ela. E do bom. Ela emprestou o túmulo dela pra Franciele e agora ela não cabe lá dentro. Era túmulo pra uma pessoa só. E como é que a Franciele vai devolver em menos de uma semana? – questionou Patricinha Quebra Quebra sem se dar conta da asneira que dizia.

Enquanto todos se descabelavam sem saberem exatamente o que fazer ou dizer, Sheila estava sentada no sofá, puta da vida.

- Precisava morrer ontem, a filha da puta? – pensava ela. Será que ela não sabia que era hoje que eu ia ser apresentada pra imprensa? Isso que é inveja viu! Fez isso só pra não deixar eu aparecer.

O tumulto era tanto que Rafael Neto só percebeu que seu ramal tocava insistentemente quando alguém gritou que o seu ramal tocava insistentemente.

- Quem? Sei... pode mandar subir.

Ainda atônito, Rafael desligou o telefone, pediu silêncio a todos e anunciou drasticamente:

- Um detetive esta aqui. Agora a merda fedeu. Eu quero ficar a sós com ele. Vão todos pro camarim, pro estúdio, pra puta que os pariu, depois eu falo com vocês.

Ninguém se mexeu!

- Porra, vão sair ou não?

- Ninguém se mexeu.

- Ou vocês saem ou eu tiro o programa do ar.

Todos saíram imediatamente, exceto Sheila que continuou acabrunhada no sofá.

- Sheila.

- Eu vou, mas antes eu quero saber se eu vou ser apresentada pra imprensa hoje ou não.

- Querida, será que você não entendeu ainda o que está acontecendo? Que duas dançarinas morreram e um detetive está prestes a entrar aqui? Será que não podemos falar sobre isso depois?

- Depois quando?

- Depois que eu falar com o detetive, arrumar um jazigo pra falecida e uma substituta pra ela?

- Ta bom. Eu to aguardando.

- Eu aguardo.

- O que?

- Nada. Só te corrigi. Odeio gerúndio.

Rafael abriu a porta para Sheila que saiu da sala pensando quem poderia ser este tal de gerúndio que Rafael Neto odiava tanto. Quando ela já estava no final do corredor, a porta do elevador se abriu e o Detetive Clayton saiu apressadamente, sem saber que por pouco não havia encontrado com a mulher que não saía mais de sua cabeça.

- Detetive, pode entrar, disse Rafael que o aguardava no corredor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Capítulo VII



Como era de praxe, no final de todos os shows do site de Almeidinha, o usuário conseguia acessar os dados de contato do artista. Alguns divulgavam apenas o e-mail, outros o telefone do empresário e a maioria o próprio telefone. E antes mesmo que se limpasse, Steves anotou em um post-it cor de mel, o telefone de Diego.

- Alô.

- Quem é?

- Diego!

- Acabei de ver seu show.
- Quem é?

- Steves.

- Oi Esteves.

- É istives. Se fala istives.

- Gostou do streap, istives?

- Adorei.

- Eu faço ao vivo também.

- Por isso que liguei.

- E se tiver mais grana, eu faço tudo também.
- Quanto?

- Só o show 400,00. Com o tudo também, R$ 450,00.

- Pode ser agora?

- Depende! Você faz o que?

- Sou comerciante, mentiu Steves.

- Então não rola. Só faço shows e tudo também para e com padres. Só padres, e desligou o telefone.
. * * *
O Detetive Clayton saiu do restaurante feliz com a possibilidade de um breve encontro com sua amada. Estava tão feliz que nem se deu conta que Pimenta caiu na calçada de tão bêbado e por lá ficou, roncando como um porco.

Chovia bastante, mas mesmo assim ele continuou andando pelas ruas, cantando e dançando como uma criança. Motivados por tanta felicidade, alguns pedestres começaram a segui-lo, cantando e dançando também. E à noite, um telejornal noticiou que em breve a cidade deveria receber um novo musical da Brodway.

Clayton não entendeu nada quando viu a sua imagem na matéria liderando uma centena de bailarinos em uma coreografia até que interessante, na sua opinião. Depois de dizer que os produtores encontraram uma maneira diferente de gerar curiosidade sobre o espetáculo que deve estrear em breve, o apresentador mudou o tom de voz e anunciou:

- Morreu nesta tarde a bailarina do programa Domingo deTarde, Mariazinha Tico Tico, também conhecida como Mulher Acelga. Segundo o Dr Pedro Costa, médico da TV Mundo, a artista foi vítima de pneumonia.

Por um tempo, Clayton ficou se perguntando com quem ele havia conversado recentemente sobre acelgas, até que, num estalo, lembrou da foto que recebeu. Neste momento, ele ouviu o apresentador dizer:

- É a segunda morte em menos de uma semana que abala os bastidores do Domingo de Tarde, que perdeu, recentemente, a nossa querida Mulher Tempero.

A imagem da foto não lhe saía da cabeça. Lembrou-se do vidro de tempero marcado com um xis, que ao lado do vidro havia uma acelga e ao lado da acelga outras verduras, legumes e turbéculos que ele não conseguia recordar. Mas de uma coisa ele estava certo: a foto tinha uma relação com as duas mortes e era o que ele estava disposto a investigar na manhã seguinte.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capítulo VI


- Marca um almoço com ela.

- Com quem?, perguntou Pimenta, que após a sétima dose de whisky já não se lembrava exatamente quem ele era, onde estava e com quem estava.

- Com a Sheila.

- Que Sheila ? Eu conheço ela? Eu te conheço?

- A da notinha. A dançarina. Do Domingo da Tarde.

Por mais que Clayton se esforçasse, Pimenta continuava com um olhar distante, como se não entendesse absolutamente nada do que ouvia. Foi então que Clayton decidiu se expressar da única maneira que o jornalista seria capaz de entender naquele momento.

- A puta que eu comi, caralho.

- Você comeu essa gostosa? Me conta isso, reagiu Pimenta imediatamente. E foi então que o Detetive relatou tudo o que acontecera na tarde de domingo.
* * *

Ainda inconformado com a clonagem do seu cartão, o Detetive Steves aproveitou o silêncio e a ausência de seus colegas para acessar o site de Almeidinha e viu que dentro de cinco minutos começaria o show de um belo rapaz, Diego Braga. Encantado pelos cabelos pretos, corpo moreno e olhos esverdeados do garoto, Steves não exitou. Tirou de sua carteira um outro cartão que possuía, digitou os dados no site e aguardou.

Diego Braga nasceu há 20 anos em Salvador. Filho de pais conservadores e católicos que temiam ver o menino frequentando os terreiros da cidade, cedo foi levado, por única e exclusiva vontade dos pais, para um seminário. Lá estudou e aprendeu o que um padre tarado é capaz de fazer com o pinto de um lindo mancebo. E aprendeu também o quanto se pode tirar de um padre quando se é lindo e se tem um pinto. Foi com este aprendizado que ele juntou uma bela de uma grana e, aos 18 anos, saiu do seminário em direção ao aeroporto. Isso depois de conseguir se livrar do padre, que agarrado a ele, chorava desesperadamente e ameaçava se matar se ele fosse embora. O padre só se acalmou quando Diego deu a ele o último presente: o molde em gesso do seu pau ereto que ele mesmo fizera na noite anterior.
Em São Paulo, alugou um apartamento em um flat nos Jardins, o La Genoveva, onde mora até hoje. Acostumado a ganhar dinheiro gozando com o padre, continou ganhando dinheiro transando com padres. O primeiro deles foi de uma igrejinha em um bairro que mais parece uma cidade do interior, mas que não convém dizer qual é para não comprometer o santo. ( É. A igreja tem um nome de um santo, e não de uma santa. Fica aí a pista que pode ser muito importante na resolução deste caso)
Diego chegou lá, no horário da última missa de domingo, e, logo depois que o padre disse tchau para os fiéis, ele continuou sentadinho, cara de triste, uma ou outra lágrima escorrendo pela face de vez em quando, imagem que comoveu o sacerdote. Daí em diante foi só sucesso. Esse padre indicou pra um, que indicou pra outro e como tudo a vida é boca a boca – literalmente falando, neste caso – Diego continuou sua boa vida. Comprou carro, roupas de grife, perfumes importados e muito mais. Mas, ambicioso como é, não exitou também em ganhar um dinheiro extra no site do Almeidinha, que lhe foi indicado pela sua namorada, a Dinalva, mais conhecida na noite por Sheila.

Enquanto Steves se masturbava na delegacia vendo o streap tease de Diego, Pimenta e o Detetive Clayton acertaram que o primeiro marcaria um almoço com Sheila e o segundo chegaria, coincidentemente, no restaurante. Nesta hora, Pimenta simularia um mal súbito, iria embora e deixaria os dois pombinhos sozinhos.

E enquanto Pimenta e o Detetive Clayton acertaram que o primeiro marcaria um almoço com Sheila e o segundo chegaria, coincidentemente, no restaurante e Pimenta simularia um mal súbito, iria embora e deixaria os dois pombinhos sozinhos, Mariazinha Tico Tico tomava um delicioso suco de acelga em sua casa. Não se passaram dois minutos e ela caiu morta no chão.