Às 08h55 da manhã seguinte, o Detetive Steves estava na porta da loja Fantasy e Fantasias, recém-inaugurada na 25 de março.
Estava ansioso. Muito ansioso. Extremamente ansioso. Na noite anterior, telefonara novamente para Diego Braga, desta vez identificando-se como o Padre Tavares.
- De qual igreja? – perguntou Diego.
- Da igreja de Santa Mafalda.
- Nunca ouvi falar desta santa.
- É uma pena!
- Onde fica a igreja?
- Em Tapiratiba. Uma cidadezinha do interior. É a única igreja desta santa pouco conhecida.
- Quem lhe indicou?
- O Padre Anselmo.
- Não conheço.
- É porque ele ainda não usou os seus serviços. Mas me disse que usará em breve. Você foi recomendado a ele pelo Padre Daniel.
- Esse eu conheço.
- Pronto. A que horas amanhã?
- O que você quer?
- Tudo.
- Ao meio-dia.
- Estarei aí.
Steves estava tão recolhido em si mesmo lembrando-se da voz sensual do garoto que nem percebeu que a loja já estava aberta. Entrou rapidamente, escolheu a melhor fantasia de padre que encontrou, experimentou e saiu, seguindo rapidamente para a delegacia.
***
Desde cedo, a sala de Rafael Neto estava um caos. Todas as dançarinas estavam lá, algumas em prantos, outras em estado catatônico e as demais gritando como loucas.
Em meio a tanta confusão, Duda Maia e Tavares tentavam convencer o diretor artístico que as imagens do corpo da mulher acelga poderiam ser usadas no reality show Mal Súbito. Além disso, ambos estavam felicíssimos, pois, diante do fatídico acontecimento, entenderam que o melhor critério de eliminação deste programa, seria a morte.
- Morreu, eliminou! É isso, Rafael, morreu, eliminou! O que você acha?
- Eu não acho nada. Eu não consigo pensar!
- Pois trate de pensar, ordenou a Mulher Aipim. Alguma coisa muito estranha esta acontecendo. Não é possível que seja só uma coincidência.
- E é bom achar um jazigo pra ela. E do bom. Ela emprestou o túmulo dela pra Franciele e agora ela não cabe lá dentro. Era túmulo pra uma pessoa só. E como é que a Franciele vai devolver em menos de uma semana? – questionou Patricinha Quebra Quebra sem se dar conta da asneira que dizia.
Enquanto todos se descabelavam sem saberem exatamente o que fazer ou dizer, Sheila estava sentada no sofá, puta da vida.
- Precisava morrer ontem, a filha da puta? – pensava ela. Será que ela não sabia que era hoje que eu ia ser apresentada pra imprensa? Isso que é inveja viu! Fez isso só pra não deixar eu aparecer.
O tumulto era tanto que Rafael Neto só percebeu que seu ramal tocava insistentemente quando alguém gritou que o seu ramal tocava insistentemente.
- Quem? Sei... pode mandar subir.
Ainda atônito, Rafael desligou o telefone, pediu silêncio a todos e anunciou drasticamente:
- Um detetive esta aqui. Agora a merda fedeu. Eu quero ficar a sós com ele. Vão todos pro camarim, pro estúdio, pra puta que os pariu, depois eu falo com vocês.
Ninguém se mexeu!
- Porra, vão sair ou não?
- Ninguém se mexeu.
- Ou vocês saem ou eu tiro o programa do ar.
Todos saíram imediatamente, exceto Sheila que continuou acabrunhada no sofá.
- Sheila.
- Eu vou, mas antes eu quero saber se eu vou ser apresentada pra imprensa hoje ou não.
- Querida, será que você não entendeu ainda o que está acontecendo? Que duas dançarinas morreram e um detetive está prestes a entrar aqui? Será que não podemos falar sobre isso depois?
- Depois quando?
- Depois que eu falar com o detetive, arrumar um jazigo pra falecida e uma substituta pra ela?
- Ta bom. Eu to aguardando.
- Eu aguardo.
- O que?
- Nada. Só te corrigi. Odeio gerúndio.
Rafael abriu a porta para Sheila que saiu da sala pensando quem poderia ser este tal de gerúndio que Rafael Neto odiava tanto. Quando ela já estava no final do corredor, a porta do elevador se abriu e o Detetive Clayton saiu apressadamente, sem saber que por pouco não havia encontrado com a mulher que não saía mais de sua cabeça.
- Detetive, pode entrar, disse Rafael que o aguardava no corredor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário