quarta-feira, 1 de abril de 2009

SE ESTA RUA, SE ESTA RUA FOSSE MINHA...

Hoje, por conta de uma consulta médica, fui à Mirandópolis, bairro classe média entre a Vila Mariana e a Saúde, onde passei minha infância. Há um bom tempo não ia para aqueles lados e como cheguei com certa antecedência, parei o carro e resolvi caminhar calmamente pela rua onde morei ao invés de ficar lendo revista na sala de espera do consultório.
Quase nada mudou. Nenhuma casa foi derrubada para virar prédio. Elas continuam lá, iguaizinhas às que ainda tenho na memória. Com certa nostalgia, que me acompanha nos últimos tempos, passei em frente à casa da Dona Ofélia, de onde roubávamos mamona para realizarmos combates memoráveis no quintal de nossa casa. Reparei que a “venda” de seu Antônio, que vendia tudo muito mais caro que os outros lugares, virou oficina mecânica, que a papelaria não existe mais e que a mercearia da esquina, cujo dono não lembro o nome, continua lá, do mesmo jeito que antes. Era lá que a minha mãe tinha a caderneta onde eram anotadas as compras diárias pagas somente no final do mês.
A casa onde morei, agora é uma imobiliária. Parei diante dela e em questão de segundos lembrei-me de tantas coisas que pareciam esquecidas no tempo ou apagadas pela memória que até me assustei. E foi então que me vi ainda menino pulando a janela do quarto que dá para o jardim para depois sair correndo para brincar na rua sem a autorização do meu pai. Lembrei-me dos dias de feira, quando colocava na calçada dezenas de gibis velhos que eu tentava vender para quem passasse. Vez ou outra eu vendia um e o dinheiro ganho reaplicava em gibis novos e na revista Recreio, que comprava todas as semanas. Percorri, na minha memória, cada cômodo da casa, senti o cheio do café passado no coador de pano, revivi a alegria do nascimento da minha irmã, achei, debaixo da minha cama, a caixa onde escondia doces e chocolates do meu irmão, reencontrei primos que há muito não vejo e brinquei de escorregar descalço no quintal em dias de chuva.
Caminhei com minhas memórias até o carro e dei uma última olhada na casa antes de seguir caminho, e mais uma vez me vi ali, com meus seis ou sete anos, dando um tchau pela janela, exatamente como eu fazia quando minha mãe saía. Mas hoje, quase quarenta anos depois, o tchau foi para mim. Eu acenei, sorrimos um para o outro e nos despedimos, felizes pelo reencontro que o tempo nos proporcionou.

Nenhum comentário: