quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ASSASSINATOS NO ESTÚDIO C - CAPÍTULO IV

Cinco minutos depois que entrou na sala de Rafael Neto, Sheila já estava contratada. Nem precisou mostrar o vídeo book, o que a deixou com certa raiva pelo dinheiro que perdeu e pelo trato que deu e não precisaria ter dado no Almeidinha.

- Muito obrigada.

- Não agradeça. Estou fazendo isso por Franciele. Aliás, é no lugar dela que você vai entrar.

- Não posso tirar o lugar da minha amiga, respondeu Sheila num impulso.

Seguiram-se alguns segundos de silêncio, tempo suficiente para ela pensar que não deveria ter dito o que disse. Rafael Neto olhou para ela, olhos tristes e lacrimejantes, caminhou em sua direção, abraçou-a e começou a chorar convulsivamente.

- Entendo. Deve ser realmente muito difícil, eu também estou sofrendo, ele disse entre lágrimas e soluços.

- Olha, esquece o que eu disse. Eu fico no lugar dela sim. Ela também ficaria no meu. Amiga também é pra essas coisas, pra ficar uma no lugar do outra quando precisa. Ela não me disse que ia tirar férias, então eu cubro ela e pronto, depois, se você gostar de mim, eu continuo. Não precisa chorar por causa disso.

- Então você não sabe?

- Não sei o que, homem de Deus?

- Que Franciele morreu?

***
No 399° DP, o Detetive Steves esmurrava sua mesa enquanto falava ao telefone com o atendente do cartão de crédito. “Mas isso é um absurdo”, gritava, “eu não gastei esse dinheiro todo, como o meu cartão pode estar bloqueado? Alguém clonou o meu cartão, só pode ser!”

Para não ouvir a gritaria, o Detetive Clayton colocou um chumaço de algodão em seu ouvido. Ele olhava fixamente a tela do seu computador, mas sequer enxergava as cartas do jogo de paciência à sua frente. Seu pensamento estava longe. Estava em Sheila. Ele não conseguia entender porque ela ainda não havia ligado para ele. É certo que ele entendeu que ela tirou dinheiro da sua carteira enquanto dormia exatamente para não acordá-lo, o que no seu modo apaixonado de pensar, era uma prova de amor. O que realmente o incomodava era a ausência de uma ligação.

Seu pensamento foi interrompido quando alguém jogou em sua mesa as correspondências do dia. Clayton pegou os envelopes, foi separando os que não o interessava até se deter um em envelope grande, de cor branca, sem remetente, e envolvido por um papel celofane e uma fita de cetim vermelho. Imediatamente, ele imaginou-se tratar de uma carta de sua amada e o abriu. Dentro dele, apenas uma foto.

- Steves, Steves, vem cá!

- Peraí, Clayton, Só vou finalizar essa ligação aqui.

Clayton olhava para a foto e a foto olhava para Clayton e os dois não conseguiam se entender. Por que alguém haveria de lhe mandar uma foto de uma mesa com um vidro de tempero, uma acelga, uma rúcula, uma chicória, um quiabo e alguns legumes ou tubérculos que ele não conseguia identificar? E por que o vidro de tempero estava assinalado com um X? E qual a razão de uma seta apontar para uma acelga?

- Puta que pariu Clayton. Clonaram meu cartão, acredita? Mas eu vou te dizer uma coisa... eu vou pegar quem fez isso e jogar no Tietê, ah, se vou! O que é que tu quer?

- Isso é aqui é uma verdura ou um legume?, perguntou Clayton apontando a foto para Steves.

- Porra, não tá reconhecendo um inhame? Que merda de detetive é você?

- E isso aqui?

- Um aipim, caralho! Vê lá hein Clayton.... não marca bobeira não, não deixa o delegado ouvir que você não sabe essas coisas... ele sempre disse que gosta de detetive que tem conhecimento geral. Nunca ouviu ele dizer que pra um policial descobrir um crime ele precisa saber um pouco de tudo? Tu tá mal nessa história de botânica... se liga na botânica, meu irmão, se liga na botânica.

- Não enche o saco Steves... desde quando eu preciso saber de inhame pra prender bandido? Agora uma coisa está me intrigando! Por que alguém haveria de me mandar uma foto como essa?

- Pra mim, é alguma divulgação de restaurante, concluiu Steves!

- Pode ser, pode ser... mas que é estranho, é!

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