quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ASSASSINATOS NO ESTÚDIO C - CAPÍTULO III

Com o dinheiro que roubou da carteira do Detetive Clayton, Sheila resolveu fazer um vídeo book. Nada muito sofisticado. Queria apenas que alguém a gravasse dançando ritmos diversos. Telefonou para Almeidinha, um velhinho de 82 anos muito conhecido no meio da prostituição.
Posso dizer que ele é, literalmente, um filho da puta. Quando ele nasceu, Rosa Baiana, sua mãe, foi expulsa do puteiro onde trabalhava, lá pros lados da Cidade Baixa, em Salvador. Sem dinheiro e sem teto, ela veio tentar a vida em São Paulo, onde só chegou por solidariedade dos caminhoneiros que lhe deram carona e a comeram nas boléias dos caminhões. Um deles era frequentador do Caverna Molhada, conhecida casa de moças nada finas no centro da cidade. E foi lá que ela ficou com Almeidinha, que de lá só saiu depois de completar 35 anos. Bonito, pele morena, olhos esverdeados e corpo atlético, ele era o xodó das raparigas. Quem o vê hoje, careca, barrigudo, olhos vermelhos de contínuos derrames e com a dentadura que salta à boca sempre que ele fica nervoso, não imagina o galã que outrora foi.
Aposentado por invalidez aos 55 anos, atualmente Almeidinha completa seu irrisório pagamento do INSS gravando streap tease de garotas e garotos de programa com transmissão direta via internet pelo site streaptesao.com.br.

Nota: Contam que a aposentadoria por invalidez de Almeidinha foi mais um de seus muitos golpes. Todos até hoje se perguntam como alguém que nunca teve carteira assinada e sempre viveu de estelionato, roubo de carro, tráfico de drogas e de órgãos, entre outros pequenos crimes, conseguiu se aposentar. Uns dizem que ele falsificou documentos, outros que os envolvidos nos seus crimes eram pessoas muito poderosas, que circulavam pela esfera do poder e que, por medo, o ajudaram. Possivelmente, nunca saberemos.

O sistema do streaptesao é muito simples. Os interessados e interessadas entram no site, vêem a agenda de shows, escolhem o horário e pagam R$ 50,00 para terem o acesso liberado na hora marcada. O pagamento só pode ser feito por cartão de crédito, pois Almeidinha também complementa seu rendimento clonando cartões com os dados que obtem no site.

- Almeidinha, preciso que você me grave dançando. Quanto fica?

- Quem é?

- Sheila, porra!

- Você precisa marcar o dia e a hora que pode fazer o show. Pago 10% do que entrar de receita pro horário.

- Não quero fazer show. É só me gravar dançando. Depois fazer umas cópias em DVD. Quero levar pra televisão.

- Cobro R$ 300,00

- Pago R$ 150,00.

- R$ 200,00 mais quatro boquetes. Um por semana.

- R$ 150,00 mais um boquete e um beijo de língua.

- Fechado!

- Quando eu posso gravar?

- Vem hoje à noite. Com pagamento adiantado.

- Combinado. Mas lava bem antes, senão não pago.

Sheila desligou o telefone feliz. Sentia que sua vida começava a mudar. Que novos ventos sopravam, inclusive os muito fortes vindos do oceano e que quase a levaram para o meio da rua. Ela segurou-se no orelhão para não ser arrastada e com muita dificuldade conseguiu discar o número de sua melhor amiga.

- Sheila, não posso falar com você agora. Preciso me maquiar. O programa começa daqui a pouco.
- Relaxa, Franciele. É um segundo. Hoje vou fazer meu video book. Me fala pra quem eu posso entregar aí na TV! Quero dançar no Domingo de Tarde.

- Quem contrata é o Tavares, o diretor. Mas ele só contrata quem o Rafael Neto indicar. É o diretor artístico da emissora! Mas tem que dar pra ele, senão não rola.

- Isso é fácil.

- Liga pra ele amanhã. Diz que é minha amiga. Ele vai te atender.

Sheila agradeceu sem supor que seria a última conversa com a amiga. Depois pegou o metrô, desceu na Estação República e foi caminhando feliz até a Rio Branco onde pretendia encontrar um hotel para passar a noite. No caminho, lembrou de parar em uma farmácia para comprar Listerine, que lhe seria muito útil depois de praticar o pagamento no Almeidinha. E foi às cinco da tarde de segunda-feira que ela se viu na sala de espera de Rafael Neto.

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